Delegada de polícia de Taquara, Andréia NicottiFoto: Adriana Franciosi / Agencia RBS
Esqueça a imagem da policial durona Kate
Mahoney, com o revólver cano longo preso à cintura eternizada por Jamie Rose na
série Lady Blue (Dama de Ferro, no Brasil). As mulheres que fazem cumprir a lei
no Estado portam pistolas Taurus PT 40, com 15 balas no pente, em bolsas Louis
Vuitton e Victor Hugo. E só descem do salto quando estão em alguma missão
especial fora das delegacias.
Com o ingresso de 66 novas delegadas em
2010, a maioria com menos de 30 anos, o perfil da corporação mudou rapidamente.
Ambientes antes masculinizados, as DPs ganharam vasos de flores e pinturas a
óleo, em uma transformação visual iniciada pelas veteranas. Sobre as mesas,
além do distintivo e do par de algemas, podem ser vistas canecas decoradas e
frascos de hidratante — nove em 10 delegadas consultadas confiam a pele ao
creme de morangos da Victoria’s Secret.
FOTOS: confira galeria com as delegadas
Elas são as meninas superpoderosas do Palácio da Polícia
— O ambiente de trabalho tem de ser acolhedor, tanto para quem trabalha quanto para as vítimas de crimes que buscam ajuda — justifica a delegada Andréa Nicotti, 27 anos.
FOTOS: confira galeria com as delegadas
Elas são as meninas superpoderosas do Palácio da Polícia
— O ambiente de trabalho tem de ser acolhedor, tanto para quem trabalha quanto para as vítimas de crimes que buscam ajuda — justifica a delegada Andréa Nicotti, 27 anos.
Nem os armários, até então reservados para
armas e munição, escaparam à reforma imposta pelas delegadas. Muitos deles são
usados como guarda-roupas improvisados.
— Em geral trabalho de tailleur, mas tenho
uma mala na DP com roupas operacionais, coldres, colete, tênis, caso precise
sair para diligência ou operação — comenta Andréa.
Natural de Porto Alegre, Andréa integra a
nova turma de delegadas disposta a dedicar a vida a prender criminosos sem
abrir mão dos projetos particulares. Professora de Direito na Faccat, a jovem
plantonista na DP de Taquara concilia o trabalho policial com a vida acadêmica.
Para isso, bastou se organizar:
— Essa interlocução entre a rua e a universidade
é muito importante.
Novo perfume no ar
Do floral amadeirado de Amarige, de
Givenchy, às notas de gengibre, almíscar, sândalo e baunilha do clássico
Bvlgari, uma efusão de perfumes também tem marcado as megaoperações da Polícia
Civil. As centenas de policiais que saem às ruas antes do nascer do sol para
combater o crime suavizam a robustez do desenxabido traje tático preto e branco
usado nestes dias com brincos e pingentes discretos. E, claro, olhos e lábios
devidamente delineados.
— Nas operações, elas assumem os mesmos
riscos de qualquer outro policial — afirma o Chefe de Polícia, Ranolfo Vieira
Júnior.
Sem deixar a vaidade de lado, as mulheres
galgam espaços dentro da corporação. Cinco delas estão à frente de delegacias
regionais, onde supervisionam o trabalho de outros delegados. Uma sexta ocupa o
cargo interinamente.
— O que posso dizer é que são tão
eficientes quanto os homens — avalia o diretor do Departamento de Polícia do
Interior, delegado Mario Wagner.
Elisangela Melo Reghelin, da regional de Gramado
Foto: Adriana Franciosi/Agência RBS
Foto: Adriana Franciosi/Agência RBS
De prenda a delegada
Ela dança flamenco, pratica mergulho em
águas profundas, faz doutorado na Espanha e já publicou dois livros, mas
atualmente é na hípica Gramadense, na Serra, que Elisangela Reghelin tem gasto
quase todo o tempo livre.
Aos 37 anos, a delegada regional de
Gramado, responsável pelo trabalho policial em 11 cidades, está apaixonada pela
equitação, seu mais novo hobby.
— Sempre tive vontade de aprender, então
comecei as aulas logo após assumir a Delegacia Regional de Gramado, em março —
revela.
Elis é multitarefa desde adolescente. Em
1995, quando já estudava Direito na Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), a
futura delegada conquistou o título de 1ª Prenda do Rio Grande do Sul,
mostrando ser, além de bela, uma profunda conhecedora das tradições gaúchas.
— Para uma jovem de 19 anos isso é muito
significativo, pois adquiri muito conhecimento, cultura e conheci muitos
lugares e pessoas que influenciaram no modo como sou hoje. Ter representado a
mulher gaúcha por um ano (afora os dois anos anteriores, de preparação e de
concursos) me deu muita garra e energia para aprender a lidar com as
adversidades e para buscar a realização de meus projetos.
Na mesma época, a agitada universitária
integrava um trio musical de tango (piano, violino e voz) e se apresentava em
festas de casamento. As aulas de mergulho começaram após a formatura.
— Já mergulhei em San Andres (Colômbia),
Curaçao (Antilhas Holandesas), Fernando de Noronha, Abrolhos, Parati, dentre
outros. Eu "respiro melhor debaixo d'água" — brinca.
Um ano depois de se formar, Elis já havia
passado no concurso para delegado. Em 13 anos de Polícia Civil, a delegada
atuou em departamentos especializados no combate ao crime organizado e às
drogas e foi diretora de ensino da Academia de Polícia e da Secretaria Estadual
da Segurança Pública.
Irrequieta, ainda encontra tempo para uma
boa produção:
— No dia de operação policial, quando
levanto às 3h da madrugada, não dá tempo para cuidar de todos os
"rituais" femininos. Mesmo assim, rímel e gloss são fundamentais!
Elis é também uma mulher prevenida. Como
nunca sabe ao certo como será o dia, ela transformou sua Tucson em um closet
móvel, onde a sapatilha está guardada ao lado do coturno.
— Há sempre a possibilidade de uma reunião
de última hora na Capital ou uma operação para prisão de criminosos — comenta.
E como ela acredita que os homens encaram
mulheres que, além de decididas e independentes, são policiais armadas?
— Acho que os homens que são mais seguros
de si não têm medo de se aproximar de mulheres policiais. Porém, os mais
machistas, certamente já se afastam, logo, logo — brinca.
A presença feminina
- A Polícia Civil
conta com 141 delegadas, 27,6% do total
- Duas delas chegaram à quarta classe, a mais alta
- Entre os 5,8 mil policiais gaúchos há 1,8 mil mulheres
Fonte: DONNA ZH
- Duas delas chegaram à quarta classe, a mais alta
- Entre os 5,8 mil policiais gaúchos há 1,8 mil mulheres
Fonte: DONNA ZH
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