sábado, 19 de janeiro de 2013

Morte de bebê em Santa Rosa expõe falhas da vida moderna

Menina de 11 meses morreu na quinta após ser esquecida dentro de carro

     A morte de uma menina de 11 meses, deixada por quatro horas dentro de um automóvel em Santa Rosa, no noroeste do Estado, provocou consternação ao colocar um provedor no papel de responsável pela tragédia. O bebê foi esquecido no carro pelo pai, delegado de polícia no município.

Relembre outros casos semelhantes

     Ainda que casos similares tenham se repetido nos últimos anos, no Brasil e no Exterior, o episódio da quinta-feira causa comoção por abalar noções profundamente arraigadas. Segundo o psicólogo e psicanalista Leonardo Della Pasqua, presidente da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul, o caso de Santa Rosa choca porque lesa nossos conceitos sobre família e meio social.

     – A criança é vista como um ser inocente e indefeso, que deve ser objeto de proteção. Quando os pais não conseguem oferecer os cuidados básicos, tememos pela própria sociedade. Provavelmente, tratava-se de um pai atencioso, mas de repente ele tem um ato de esquecimento quase inexplicável. Ficamos perplexos e perguntamos: como isso pode acontecer? — diz Della Pasqua.

     O especialista observa que a comoção também é alimentada pelo temor de que qualquer um de nós esteja sujeito a viver algo tão terrível:

     — Diante de um caso desses, temos medo de que o mesmo possa acontecer conosco e com os nossos filhos. Temos medo pela própria estrutura da sociedade quando as crianças são vítimas de violência.

     O psiquiatra José Ovídio Copstein Waldemar, que dirige o Instituto da Família de Porto Alegre, acredita que episódios como o de Santa Rosa e outros similares geram abalo porque nos confrontam com as falhas do modo de vida moderno. Ele sugere que toda a sociedade partilha da responsabilidade pela tragédia.

     — Todos nós temos tendência a viver no piloto automático. As pessoas estão sempre correndo, produzindo, tentando fazer mais. A cabeça está a maior parte do tempo no passado ou no futuro. Esse pai provavelmente estava com a cabeça em alguma coisa importante. O problema não é apenas desse pai, é de toda a sociedade. Nos serve de alarme.

     Vera Maria Pereira de Mello, psicóloga e psicanalista, lamenta a situação com a qual o pai terá de lidar:

     — Se ele tinha o cuidado de levar a criança à escolinha, significa que se envolvia. Penso no sofrimento desse pai, que tende a se perpetuar. Dificilmente ele conseguirá perdoar a si próprio.

Fonte: Itamar Melo / ZERO HORA

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