sábado, 12 de janeiro de 2013

Moradores da Serra mudam hábitos e tentam superar o medo dos assaltos

Sequência de ações violentas de criminosos gera insegurança na região
Moradores da Serra mudam hábitos e tentam superar o medo dos assaltos Charles Dias/Especial
Família Ulian gastou mais de R$ 25 mil em equipamentos de segurançaFoto: Charles Dias / Especial

     Depois de seis assaltos, a família Ulian decidiu cercar toda a casa onde vive, na zona rural de Flores da Cunha, obstruindo a vista privilegiada para os bucólicos parreirais e consumindo recursos que deveriam ser investidos na produção. Foram R$ 25 mil gastos em um sistema de câmeras de segurança e uma cerca elétrica que vai do chão até acima da cerca de arame de mais de dois metros. Eles nem nutrem a esperança de que isso impeça novos ataques, apenas querem ter um pouco mais de sensação de segurança.

     — Sabemos que isso não vai impedir que eles nos assaltem, mas pelo menos vai atrapalhar. Tudo o que colocamos aqui também faz com que a gente se sinta menos desprotegida — afirma Roberta Ulian, 32 anos.

Leia também:


Circulação de dinheiro e rotas de fuga atraem os assaltantes para a Serra

     A sensação de insegurança descrita por Roberta se intensificou entre os mais de 800 mil moradores da Serra com os recentes casos de ataques violentos a bancos, casas e propriedades rurais. Os números da Brigada Militar indicam que os assaltos na região se estabilizaram, mas, na avaliação do comandante da Brigada Militar, coronel Sérgio Roberto de Abreu, o que aumentou foi o medo das comunidades:

     — Não há aumento expressivo de roubos na Serra. O que acontece é que os casos que tivemos nos últimos meses foram violentos, e geraram repercussão nas comunidades. A isso se deve a sensação de insegurança — afirma.

     Nos últimos três meses, ataques com explosivos e com reféns vem chamando a atenção. Os criminosos costumam chegar em grupos de três ou mais bandidos, sempre usando armas de grosso calibre. Em dezembro, em um espaço de uma semana, foram atacados bancos em Guaporé, Nova Pádua e Antônio Prado. Morador de um prédio vizinho ao Banco do Brasil de Antônio Prado, o empresário Arlindo José Mazzotti, ao abrir as janelas, agora depara com as luminárias da rua furadas por tiros:

     — Minha filha não quer mais ficar sozinha depois daquele dia. Fomos acordados pelos tiros, e ela teve de se esconder debaixo da cama.

     Além dos assaltos a bancos e outros alvos — como a fábrica de joias de Cotiporã, no dia 30 de dezembro —, parte do medo é creditado aos sucessivos ataques a residências. Após invadir as casas, grande parte delas em localidades do Interior, os criminosos fazem as famílias reféns, em ações que podem durar horas.

     — Os assaltos no Interior estão deixando de ser casos isolados. Tem sido mais fácil para os bandidos agirem nessas comunidades, por isso estamos pedindo à BM mais efetivo nas cidades menores — afirma o presidente da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesme), Adenir José Dallé.

     Maior município da Serra, Caxias do Sul registrou aumento nos casos de roubos a residências em que os moradores foram feridos por assaltantes. Foram nove em 2011 contra 14 em 2012. No total foram registrados 1,9 mil roubos até novembro do ano passado, contra 1.538 casos em todo o ano de 2011. A violência na cidade, de acordo com a BM, é um termômetro do que acontece em toda a região.

     — Priorizamos o policiamento em Caxias, porque a violência da cidade acaba se espalhando. O que acontece em Caxias reflete em toda a região — diz o tenente-coronel Leonel Bueno, que responde pelo Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO) da Serra.

Fonte: Álisson Coelho / ZERO HORA

Nenhum comentário:

Postar um comentário